quarta-feira, outubro 25, 2006

Carrossel dos loucos


Acordo sob o efeito da embriaguez do sono e arranco do mais profundo esforço o objectivo crucial desta tarde: alcançar a casa-de-banho. Olho para o meu aspecto reflectido. Faço mais um pequeno esforço para tentar abrir os olhos que são atacados ferozmente pelos raios de luz artificial de uma lâmpada comum de 60 watts. Reparo que o tecto deste miserável recanto está cada vez mais negro. Nunca pensei ver aquela superfície anteriormente lisa com aquela tonalidade espessa e pesada.
Entro na cozinha e sinto o cheiro a gato. Pensei eu se desta vez ele teria morrido, talvez à fome, ou por desordem do destino. Não. Era apenas o cheiro de gato que não toma um banho à, pelo menos, um ano. Sem sombra de dúvidas!
Tinha caço, como já se tornou hábito, um rato doméstico. Encontrava-se a pequenos centímetros da pia do gato e estava decepado. Esventrado até.
Sinto o meu corpo a rastejar, a desviar-se das paredes que o resguardam.
Sento-me na cadeira do costume e pego no bloco de notas. A caneta roída estava a fazer-lhe companhia. Começo a desenhar um plano maquiavélico para tentar solucionar um problema derivado da questão. Aquela questão que surge de entre várias outras questões que viajam pelo carrossel dos loucos. Pelo menos é que eu lhe chamo. O carrossel de ideias flamejantes que invadem a alma do mais puro dos mortais. Eu.

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terça-feira, outubro 24, 2006

Génese


Já sinto as gotas de água na cara e ainda não é Inverno. Olho para o chão. Calco folhas de árvores que já viram mais na vida delas do que eu na minha. As minhas extremidades estão frias. Frias como a própria morte.

Que sensação estranha. Viver.
Penso muito acerca da estranha e persistente dúvida da génese do nosso ser. Nascer.

Estou quase em casa. Depois de tantas horas a fazer aquilo que me dá comida para a mesa o que me apetece realmente neste momento é estar na posição horizontal, em cima de um colchão e ter o corpo coberto por um quente cobertor, que me faça sentir de novo a ponta dos dedos das mãos e dos pés. A vida miserável é de quem a faz. Faço tudo para agradar mas nem tudo me sorri, o que faz da frase anterior uma verdadeira treta. Eu tento fazer o melhor que posso durante o caminho que percorro, tento agradar a tudo e a todos, tento ser diferente com cada um para que cada um se sinta especial. Mas a vida quando quer ser miserável, é mesmo e pronto. Um dia mau é sempre um dia mau. Espero agora que um sono descansado me traga nos balõezinhos dos sonhos um bom acordar.
Alma número
Alma número