sexta-feira, julho 13, 2007

O Tempo da Morte


Uma noite de calor estranho ora dentro de quatro paredes ora fora delas.

Esta imagem estática que pende entre o meu polegar e anelar da minha mão esquerda torna-se numa imagem difusa que se entranha no meu coração em putrefacção.
Quem será esta pessoa, esta personagem principal e da vida real desta fotografia?

Sinto água na boca.

Já pouco importa a origem dos meus motivos, os apetites são deuses e senhores da minha própria vontade. Algures nesta noite viajam três almas em direcção do seu próprio pesadelo.
E este calor que teima em importunar-me, dava tudo para estar mergulhado numa banheira entre pedras de gelo.

Levanto-me desta cama que tresanda a suor animal e atiro a fotografia para dentro da segunda gaveta da minha mesinha de cabeceira. Já não tenho sítio para tantas almas devoradas. O meu contador de histórias já se repete quando procura nesta gaveta algo de original. Peço-lhe para procurar bem no fundo do meu inconsciente mas inutilmente. Eu devia saber que para ele sou um livro aberto, para ele sou apenas mais um peão de um jogo preverso que ele teima em jogar.
Entro na banheira mas não encontro o gelo desejado. Tomo um duche de água fria mas mesmo esta não me satisfaz. Há já alguns dias que não ouço o miar do meu gato. Terá morrido? Não interessa. É menos um ser vivo a sujar este antro de morte com vida. Estranha esta maneira de recordar coisas imprevisíveis, que estão fora do contexto local.

Nos próximos dias terei alguém a bater à minha porta.
Teria de me preparar para esse momento, mas como sempre o imprevisível é o meu forte.

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